A maioria dos que ingressam na área de reciclagem
começam como que por acaso, sem muitas escolhas ou recursos. Um dos primeiros
equipamentos que adquirem para agregar valor, depois da prensa, costuma ser o
moinho; Ele fica sempre no começo das linhas de reciclagem e se transforma num
diferencial de águas, para o sucateiro se transformar em reciclador. Sem contar
que com ele você pode fazer uma linha de reciclagem, visto que o restante dos
equipamentos frequentemente é mais barato.
Segue
abaixo o vídeo de uma linha de reciclagem de PP e PE com vários erros de
projeto, como o tanque de alvenaria, a instalação elétrica e “outras cositas
mas”.
O
vídeo abaixo mostra um moinho (feito por mim) moendo borra de PE que é muito
dura e judia demais das facas. Claro que uma faca feita em aço SAE UND
temperada e revenida aguenta bem a porrada.
Infelizmente, quando estas ficam gastas e o rendimento do moinho cai,
começa a improvisação. A lixadeira resolve por algum tempo, mas, a longo prazo
torna-se necessário o enchimento das facas e a afiação com um processo mais
apurado.
Para
encher as facas é necessário saber soldar, e, soldar não é derreter eletrodos e
sim seguir os princípios básicos da soldagem. Partindo do princípio que você já
saiba diferenciar um metal mole de um duro, e tenha superado a etapa de querer
usar molas usadas de caminhão como facas (aconselhado por um amigo mais
ignorante que você na arte da metalurgia).
Um eletrodo bastante utilizado é o UTP 670
que dá bom resultado. Costuma-se mergulhar parte da faca em água, utilizando-se
uma forma retangular para bolo, como mostra a figura. ***
E
recobrir a superfície gasta. Dessa forma evita-se o empenamento da faca. Depois de recoberta de solda procede-se ao desbaste
com lixadeira, usando-se um pedaço de cantoneira como régua.
Ou
se fabrica uma retífica de facas como a da foto.
Ou
compra-se uma feita por uma indústria, que é bem melhor.
***O problema de se usar molas de caminhão como facas
reside na espessura dessas molas (frequentemente bem mais finas que facas
industrializadas). Também elas são muito duras e difíceis de ser furadas,
obrigando o operador a fazer gambiarras para sua fixação. Tornando o risco de
quebras muito elevado, visto que, estas com frequência criam trincas e se
soltam quando utilizadas.
Faca feita com mola de caminhão ela foi soldada aos parafusos, mas
acabou trincando e quebrou danificando o moinho.
RETÍFICA MANUAL FEITA COM SUCATA:
Defeitos que costumam acontecer com moinhos:
1. Correias desalinhadas: é “de chorar” perder um jogo
novinho de correias logo após a troca, por não ter alinhado as mesmas. Mas
acontece. A correia desalinhada gira pelo avesso, e o moinho, com menos
correias, não agüenta o esforço, daí ele trava e as correias já eram. O mesmo
acontece se você não trocar o jogo completo, umas ficam mais frouxas. O moinho
se comporta como se estivesse com menos correias, então trava.
2. Correias muito esticadas: esse é pior ainda, além
de perder as correias você aquece o motor pelo atrito em demasia e este se
queima. Isso se não empenar o eixo, tornando a solução mais onerosa.
3. Rotor desbalanceado: Os rotores dos moinhos
costumam perder o balanceamento. Devido às pancadas podem empenar, mas
freqüentemente devido às facas estarem de tamanhos diferentes. Não é bom um
moinho trepidar em demasia, pode estragar os rolamentos (são bem caros) e a
substituição dos mesmos costuma ser bem demorada. Sem contar que não é fácil
retirar um rolamento de um moinho. Quando o moinho é de qualidade, é bem fácil
fazer a troca.
4. Facas: Depois de várias afiações os jogos de facas
costumam apresentar problemas. Segue abaixo alguns croquis dos defeitos mais
comuns que acontecem com as mesmas.
Facas gastas em uma das extremidades: quando isto
acontece não tem jeito, a regulagem das mesmas no moinho é dificultada e,
fazendo-o perder rendimento. O melhor é inspecionar periodicamente a afiação e
corrigir no começo.
H > H’
Figura 2.2
Facas abauladas: mesma coisa, corrija urgentemente,
pois, é puro descuido de quem as afia.
H > H’ = H”
Figura 2.3
Jogo com facas maiores: acontece quando uma das facas
do jogo quebra, então, fica-se com pena de descartar o restante do jogo. Porém,
ao misturar jogos diferentes, as alturas costumam não bater. O correto é
misturar jogos com facas bem próximas na altura, ou retificar todas até
igualá-las.
H > H’
Figura 2.4
As costas das facas batem na faca de espera: isto
acontece quando se perde o ângulo das facas. Quando uma faca cria dentes, o
afiador tende a fechar o ângulo para demorar menos na afiação, então, as costas
da faca batem na faca de espera. Sem contar que, mesmo que não chegue a bater,
o rendimento do moinho tende a cair por falta de ângulo de saída do material.
Uma solução é passar a lixadeira nas facas, onde estão batendo como mostra a
figura 2.5.c
Figura 2.5.a
Figura 2.6
O problema se agrava quando o furo das facas é
oblongo, por que a superfície de contato parafuso-faca é menor, e se a faca for
muito mole o parafuso irá entrando no rasgo a cada aperto podendo varar do
outro lado quando o moinho estiver sendo solicitado na moagem. Figura 2.7.
Figura 2.7
A solução do problema é utilizar sempre arruelas
evitando assim a deformidade dos parafusos na parte de contato com a faca, e
aumentar a superfície de contato, já que o furo da arruela será um pouco maior
que o diâmetro do parafuso, porém, menor que o diâmetro do furo da faca. Estas
arruelas têm de ter uma espessura tal que não se deformem no aperto, e têm de
ser substituídas sempre que comecem a ficar abauladas como mostra a figura 2.8.
Figura 2.8
Às vezes não dá para se colocar arruelas grossas nos
parafusos porque estes ficam muito altos e batem na faca de espera. A solução é
substituir os parafusos Allen por parafusos sextavados de aço, que possuem uma
cabeça menor, como mostra a figura 2.9.
Figura 2.9
Finalmente, é comum quando ocorre quebra de faca (em
moinhos mal dimensionados) que o parafuso rasgue o filete de rosca da peça e a
manutenção fique muito complicada, pois, torna-se necessário aumentar o furo,
fazer nova rosca, e trocar o parafuso por um de diâmetro maior, ou retirar o
rotor e levar no torneiro para ser embuchado.
A solução é verificar se os parafusos são grandes o
suficiente para que, ao quebrar-se uma faca, o esforço arranque a cabeça dos
mesmos e não estrague a rosca da peça. Se necessário troque os parafusos por
outros mais compridos, certificando-se que os furos do rotor sejam fundos o
bastante para que, ao apertar os parafusos estes não batam no fundo. Pois,
desta forma dará a impressão que eles deram aperto, mas a faca está solta. Se
isto acontecer deve-se aumentar o furo e passar macho. Figura 2.10.
Figura 2.10