segunda-feira, 15 de novembro de 2010

ENCHIMENTO E AFIAÇÃO DE FACAS

 A maioria dos que ingressam na área de reciclagem começam como que por acaso, sem muitas escolhas ou recursos. Um dos primeiros equipamentos que adquirem para agregar valor, depois da prensa, costuma ser o moinho; Ele fica sempre no começo das linhas de reciclagem e se transforma num diferencial de águas, para o sucateiro se transformar em reciclador. Sem contar que com ele você pode fazer uma linha de reciclagem, visto que o restante dos equipamentos frequentemente é mais barato.
           Segue abaixo o vídeo de uma linha de reciclagem de PP e PE com vários erros de projeto, como o tanque de alvenaria, a instalação elétrica e “outras cositas mas”.

            O vídeo abaixo mostra um moinho (feito por mim) moendo borra de PE que é muito dura e judia demais das facas. Claro que uma faca feita em aço SAE UND temperada e revenida aguenta bem a porrada.
           Infelizmente, quando estas ficam gastas e o rendimento do moinho cai, começa a improvisação. A lixadeira resolve por algum tempo, mas, a longo prazo torna-se necessário o enchimento das facas e a afiação com um processo mais apurado.
           Para encher as facas é necessário saber soldar, e, soldar não é derreter eletrodos e sim seguir os princípios básicos da soldagem. Partindo do princípio que você já saiba diferenciar um metal mole de um duro, e tenha superado a etapa de querer usar molas usadas de caminhão como facas (aconselhado por um amigo mais ignorante que você na arte da metalurgia).

           Um eletrodo bastante utilizado é o UTP 670 que dá bom resultado. Costuma-se mergulhar parte da faca em água, utilizando-se uma forma retangular para bolo, como mostra a figura. ***
            E recobrir a superfície gasta. Dessa forma evita-se o empenamento da faca. Depois de recoberta de solda procede-se ao desbaste com lixadeira, usando-se um pedaço de cantoneira como régua.

             Ou se fabrica uma retífica de facas como a da foto.


             Ou compra-se uma feita por uma indústria, que é bem melhor.
***O problema de se usar molas de caminhão como facas reside na espessura dessas molas (frequentemente bem mais finas que facas industrializadas). Também elas são muito duras e difíceis de ser furadas, obrigando o operador a fazer gambiarras para sua fixação. Tornando o risco de quebras muito elevado, visto que, estas com frequência criam trincas e se soltam quando utilizadas.


            
               Faca feita com mola de caminhão ela foi soldada aos parafusos, mas acabou trincando e quebrou danificando o moinho.
RETÍFICA MANUAL FEITA COM SUCATA:   



Defeitos que costumam acontecer com moinhos:
1. Correias desalinhadas: é “de chorar” perder um jogo novinho de correias logo após a troca, por não ter alinhado as mesmas. Mas acontece. A correia desalinhada gira pelo avesso, e o moinho, com menos correias, não agüenta o esforço, daí ele trava e as correias já eram. O mesmo acontece se você não trocar o jogo completo, umas ficam mais frouxas. O moinho se comporta como se estivesse com menos correias, então trava.


2. Correias muito esticadas: esse é pior ainda, além de perder as correias você aquece o motor pelo atrito em demasia e este se queima. Isso se não empenar o eixo, tornando a solução mais onerosa.

3. Rotor desbalanceado: Os rotores dos moinhos costumam perder o balanceamento. Devido às pancadas podem empenar, mas freqüentemente devido às facas estarem de tamanhos diferentes. Não é bom um moinho trepidar em demasia, pode estragar os rolamentos (são bem caros) e a substituição dos mesmos costuma ser bem demorada. Sem contar que não é fácil retirar um rolamento de um moinho. Quando o moinho é de qualidade, é bem fácil fazer a troca.

4. Facas: Depois de várias afiações os jogos de facas costumam apresentar problemas. Segue abaixo alguns croquis dos defeitos mais comuns que acontecem com as mesmas.

Facas gastas em uma das extremidades: quando isto acontece não tem jeito, a regulagem das mesmas no moinho é dificultada e, fazendo-o perder rendimento. O melhor é inspecionar periodicamente a afiação e corrigir no começo.
H > H’
Figura 2.2
Facas abauladas: mesma coisa, corrija urgentemente, pois, é puro descuido de quem as afia.
H > H’ = H”
Figura 2.3
Jogo com facas maiores: acontece quando uma das facas do jogo quebra, então, fica-se com pena de descartar o restante do jogo. Porém, ao misturar jogos diferentes, as alturas costumam não bater. O correto é misturar jogos com facas bem próximas na altura, ou retificar todas até igualá-las.
H > H’
Figura 2.4
As costas das facas batem na faca de espera: isto acontece quando se perde o ângulo das facas. Quando uma faca cria dentes, o afiador tende a fechar o ângulo para demorar menos na afiação, então, as costas da faca batem na faca de espera. Sem contar que, mesmo que não chegue a bater, o rendimento do moinho tende a cair por falta de ângulo de saída do material. Uma solução é passar a lixadeira nas facas, onde estão batendo como mostra a figura 2.5.c
Figura 2.5.a
Figura 2.5b
Figura 2.5.c

 Parafusos abaulados na parte de encosto: os parafusos, depois de alguns apertos, começam a ficar com a parte de encosto da cabeça abaulada (arredondada), prejudicando a fixação das facas; Estas também criam um arredondamento (afundamento) na superfície onde se apóiam os parafusos. Com o tempo eles tendem a se soltar, pela falta de aperto, já que a superfície de contato parafuso-faca vai ficando cada vez mais irregular a cada aperto, como mostra a figura 2.6.

Figura 2.6
O problema se agrava quando o furo das facas é oblongo, por que a superfície de contato parafuso-faca é menor, e se a faca for muito mole o parafuso irá entrando no rasgo a cada aperto podendo varar do outro lado quando o moinho estiver sendo solicitado na moagem. Figura 2.7.
Figura 2.7
A solução do problema é utilizar sempre arruelas evitando assim a deformidade dos parafusos na parte de contato com a faca, e aumentar a superfície de contato, já que o furo da arruela será um pouco maior que o diâmetro do parafuso, porém, menor que o diâmetro do furo da faca. Estas arruelas têm de ter uma espessura tal que não se deformem no aperto, e têm de ser substituídas sempre que comecem a ficar abauladas como mostra a figura 2.8.
Figura 2.8
Às vezes não dá para se colocar arruelas grossas nos parafusos porque estes ficam muito altos e batem na faca de espera. A solução é substituir os parafusos Allen por parafusos sextavados de aço, que possuem uma cabeça menor, como mostra a figura 2.9.
Figura 2.9
Finalmente, é comum quando ocorre quebra de faca (em moinhos mal dimensionados) que o parafuso rasgue o filete de rosca da peça e a manutenção fique muito complicada, pois, torna-se necessário aumentar o furo, fazer nova rosca, e trocar o parafuso por um de diâmetro maior, ou retirar o rotor e levar no torneiro para ser embuchado.

A solução é verificar se os parafusos são grandes o suficiente para que, ao quebrar-se uma faca, o esforço arranque a cabeça dos mesmos e não estrague a rosca da peça. Se necessário troque os parafusos por outros mais compridos, certificando-se que os furos do rotor sejam fundos o bastante para que, ao apertar os parafusos estes não batam no fundo. Pois, desta forma dará a impressão que eles deram aperto, mas a faca está solta. Se isto acontecer deve-se aumentar o furo e passar macho. Figura 2.10.
Figura 2.10