CRÓNICAS

ELES ESTÃO ENTRE NÓS

O mundo está mudando com velocidade espantosa. Quem diria que daqui a alguns anos os robôs invadirão nossas vidas!?
Quando os microcomputadores chegaram no Brasil, demorou alguns anos para se disseminarem, mas depois de uma década já estavam por toda parte, e fazendo inúmeras coisas.
O mesmo aconteceu com os celulares, porém, ao invés de uma década foram alguns poucos anos.
É sempre assim, começa bem de vagarinho, com um aparelhinho importado aqui, outro acolá e depois de um tempo, todo mundo quer possuir um.
Penso como será o futuro com essa nova tecnologia. E qual será o choque quando os robôs chegarem em massa nas indústrias. É capaz que seja o marco do fim da Idade contemporânea e o começo da idade cibernética.
Certamente essa tecnologia virá para economizarmos tempo em nossas tarefas. Passamos muitos anos estudando teoremas e postulados em nossas faculdades. Mas, e se colocássemos todas essas informações em alguma parte do vestuário de um profissional, com o qual ele poderia ampliar sua capacidade de solucionar problemas, tipo um mecânico que precisasse saber se a graxa é adequada àquele rolamento. Simples perguntaria para o aparelho se a marca x serve para o que ele precisa, então, o aparelho responderia que sim ou recomendaria outro tipo.
Já pensou quanto tempo se economizaria se as informações técnicas estivessem à disposição das pessoas?
Penso que no futuro existirão centrais de informação abastecendo inúmeros funcionários com diretrizes para tomada de decisões e todo mundo estará conectado numa rede gigantesca. Com centenas de pessoas se plugando se desconectando o tempo todo pelos seus celulares.
Aí, um esperto do marketing vai ressuscitar a propaganda dos correios, dizendo: seu celular faz todas essa coisas inclusive até fala.



Erro Médico

Uma vez um colega meu explicou que era perfeitamente aceitável o fato de médicos errarem nos tratamentos das diversas doenças. Dizia ele que um engenheiro ou um técnico quando começa na sua profissão dificilmente não comete erros. Um torneiro precisa “matar” algumas peças para aprender e ficar bom no torno, o médico igualmente precisa matar alguns pacientes para ficar bom no seu serviço, e o lugar de treinar é nos postos de saúde e nas UTIs. É lá que ele mata alguns pacientes até ficar bom, e, como ele mata freqüentemente pobres, não é punido. Depois que matou bastante e ficou bom ele abre uma clínica particular, começa a salvar pessoas e a ganhar dinheiro.
Eu guardei na memória essa conversa pela lógica sinistra que explicava muito bem como funciona o sistema de saúde no Brasil. Mas, os médicos que fui conhecendo ao longo da minha vida foram mudando a concepção que eu fazia da saúde pública. Quando um primo meu foi assaltado por um drogado e levou um tiro na barriga, eu e meu irmão fomos falar com o médico que o havia operado. Era um rapaz de uns trinta anos que trabalhava há oito na UTI.
Explicou-nos que meu primo tivera morte cerebral por demora no atendimento, e que havia faltado sangue no cérebro. Meu primo teve de ocupar os aparelhos que estavam mantendo vivo um bandido com vários ferimentos à bala, que chegara ao hospital, levado pela polícia, antes do meu parente. Mas, o médico prometeu que faria de tudo para não retirar estes aparelhos do meu primo.
Quando o médico nos mostrou o tal paciente gemendo num canto, em cima de uma maca e nos falou que provavelmente sem aparelhos não resistiria, meu irmão perguntou se não seria melhor transferir meu primo para uma clínica particular, o médico falou que ele não agüentaria a remoção, e sugeriu que guardássemos o dinheiro para o enterro.
Dois dias depois ele veio a falecer. O bandido da maca, não sei se sobreviveu, mas, o jovem médico com olhar de Matusalém, me fez refletir muito sobre a saúde pública .
Não adianta só ter dinheiro, se você se acidentar e precisar de primeiros socorros cairá certamente numa UTI junto com bandidos e indigentes estando à mercê de médicos despreparados, falta de aparelhos e medicamentos. Então, talvez conheça um médico que, com olhar de velho, precisará assumir o papel de Deus e julgar quem vai ter melhor atendimento e quem ficará num canto para morrer.



Viver e Deixar Viver

"Viver e deixar viver". Esta frase ficou registrada na historia da primeira guerra mundial.
Os exércitos alemães e franceses ficaram presos numa grande ratoeira, que se estendia por centenas de quilômetros entre as duas fronteiras. Como nenhuma das partes conseguia dominar a outra, elas se entrincheiraram e a guerra estagnou.
Não quer dizer que os exércitos deixaram de combater. Pelo contrário, mas em pouco tempo os soldados perceberam que não conseguiriam exterminar o inimigo, e se acomodaram em uma política de "viver e deixar viver".
Em que consistia essa política?
Na hora das refeições ninguém atacava e todo mundo podia fazer suas refeições em paz.
Imagine dois exércitos parando de soltar projéteis para não atrapalhar as refeições de ambos os lados.
Mas não aconteceu somente isso. Houve exércitos que mandavam bilhetes ao inimigo informando a que horas e lugar lançariam suas bombas, para que seus inimigos pudessem se proteger.
Isso aconteceu sem nenhum acordo entre ambos, sem ninguém ter assinado nenhum tratado entre pessoas que se odiavam e estavam ali para se matar.
Durante um bom tempo os generais, sem grande sucesso, tentaram combater a política do "viver e deixar viver".
Essa política já foi estudada por muitos sociólogos; ela existe em decorrência da necessidade que todo ser humano tem de sobreviver.
Penso que no Brasil está se praticando essa mesma política. É evidente que policiais honestos já perceberam que o tráfico e a delinqüência não têm como acabar e, certamente nos primeiros dias de serviço, devem aprender a quem podem e a quem não podem prender. A mesma prática deve acontecer entre fiscais e juízes honestos.
A política do "viver e deixar viver" tornou-se um câncer para a sociedade. Ela acontece quando duas forças antagônicas se chocam e uma não consegue dominar a outra.
Um exemplo prático é quando você não denúncia um bandido, com medo de represálias por parte da quadrilha dele, e usa os famosos chavões: "eu não vi", "me deixa fora disso", "eu não quero saber".
Isto não se vê só nas favelas, como muitas vezes se acredita. É o medo que vai tomando conta de todos nós, e vamos deixando as coisas acontecer. A resposta é sempre a mesma: "vamos fazer o que?"
Mas se perguntamos à nossa consciência, com certeza teremos a resposta certa.
Mas como o ser humano é bom em criar frases alusivas a certos interesses, eu me pergunto: Será que nos altos graus da política já não exista algo assim como "Roubar e deixar roubar"?

È preocupante... Muito preocupante.

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